“A intolerância é em si uma forma de violência e um obstáculo ao desenvolvimento do verdadeiro espírito democrático”. (Mahatma Gandhi)

Com as palavras deste grande pensador e idealizador do pensamento da não-agressão, que inicio os comentários sobre a democracia, este regime tão comentado e tão desejado, mas não efetivado em nossa nação. Assim como a Ética, a Política, a Justiça e tantos outros assuntos do meio do povo, o tema Democracia é muito comentado, mas quando o indivíduo é perguntado sobre o seu significado, poucas pessoas sabem responder, ou se aproximam de um significado mais coerente. O fato é que, ao contrário do que nos ensinou o memorável filósofo francês René Descartes, em sua obra magnífica, denominada O Discurso do Método, poucos analisam, tomam consciência do que estão procurando saber para assim, depois de um longo processo de apuração e conhecimento, seja definido um juízo que seja coerente. Diante desta certa impaciência em se analisar os pontos, é que temos por aí tantos conceitos mal formados acerca de inúmeros assuntos importantes à sociedade.

Muitos cidadãos brasileiros que encontramos, se forem indagados sobre qual o regime que prevalece no Brasil, a resposta é clara: DEMOCRACIA. Os candidatos a cargos do executivo e legislativo falam muito deste tema. Nos comícios, reuniões e outros momentos de campanhas eleitorais, esta palavra é repetida infinitas vezes. O peito de homens e mulheres se enche para orgulhar-se de um país que vive um regime completamente controlado pelo povo. Porque essencialmente falando, a democracia vai dizer isso, que o poder é do povo. É ele que tem a soberania na hora de decidir o futuro na escolha de seus representantes.

Sócrates em seu pensamento sobre a sociedade perfeitamente organizada definia os regimes políticos em cinco tipos; a ARISTOCRACIA, governo da razão, dos melhores; a TIMOCRACIA, governos dos fortes; a OLIGARQUIA, governo de poucos, dos ricos; a DEMOCRACIA, governo de muitos, sob o controle do povo; e a temida DITADURA, ou seja a tirania. Em uma análise bem apurada, poderíamos dizer que somente o regime da razão, ou seja, a aristocracia, não está presente em nossa história. A razão aqui é o menos usado.

No decorrer de nossa história já presenciamos os fortes, os furiosos da timocracia, as oligarquias, que até hoje em muitas regiões ainda prevalecem. São aqueles pequenos grupos que foram uma vez eleitos e até hoje se mantêm no poder, mas claro, sempre elevados pelo povo que vive subordinado às famílias de nomes marcantes que só em lembrar causam medo. São aqueles que fazem da política uma forma de ganhar o pão para toda a sua família. São os perpétuos, os efetivos donos do sistema. São os que caducam governando e que no limiar de suas vidas passam o cetro para seus herdeiros. Este é o tipo de regime mais adequado ao Brasil. É exatamente isso que presenciamos na maioria das cidades e dos estados da federação (e no parlamento também).

Na democracia brasileira algo é verdadeiro, a liberdade para escolhermos nossos representantes. Esse direito é garantido no pleito secreto e na garantia de expressarmos nossa vontade, votando naquele ou naquela que mais representou capacidade para exercer essa função pública. Chegamos ao problema. No passo em que temos um regime liberto para a escolha, batemos de frente com o individualismo social e o desejo de escolha daquele ou daquela que mais represente os interesses pessoais. É nesta atitude que a democracia é quebrada.
Vamos a uma viajem à Câmara Federal e ao Senado da República. Chegando lá o que vamos ver? Deputados e senadores eleitos por interesses pessoais, ou de grupos diminutos da sociedade. Por exemplo: nas duas instâncias legislativas da federação temos os grupos parlamentares protestantes, do outro lado temos os sensacionalistas. Todos misturados num só caldeirão de falcatruas. Citei apenas estes dois grupos, pois são os mais marcantes no nosso dia-a-dia. A presidente Dilma, e todos os que governam o Brasil ficam amarrados para se tomar decisões quando são ameaçados pelas bancadas de ideologias diferentes, que defendem os preceitos de seus grupinhos, as doutrinas de sua religião dentre outros desejos absurdos que de nada contribuem com o desenvolvimento social. A consciência do eleitor que controla o regime vigente no Brasil é uma consciência de elevar ao poder o que melhor represente seu interesse pessoal.

Continuando nossa viajem, vamos seguir aos municípios. Qual o pensamento que prevalece no meio popular, na hora de se eleger um prefeito ou um vereador? Será que sua carreira acadêmica, seu currículo, sua ficha são analisados antes de se votar? De forma alguma. O critério para se eleger um vereador é que ele ajude a família. A coletividade jamais passa na mentalidade de muitos. Pouco interessa se um vereador vai apresentar um requerimento que favoreça o povo. O que importa é que ele arranje um emprego para alguém da família, que sempre assista quando um membro precise de um favor. O critério em nossos municípios para se reeleger é passar quatro anos fazendo favores pessoais. Enquanto isso, projetos para o município, para o povo de uma forma geral, deixa de ser o essencial. O individualismo é a marca principal no pensamento atual do nosso povo.

O pensamento democrático estabelecido por Sócrates e tão brilhantemente expressado por Platão no clássico A República, tornou-se em nossos dias uma utopia. Existe apenas um rascunho quase que apagado de um regime que seria perfeito, mas que no perpassar dos anos é deteriorado pela má formação dos conceitos. A reflexão no campo das ações, que no mundo grego era um princípio para o bem viver, hoje não passa de um mero livro de mandamentos, que em cada grupo é representado de um modo diferente.

Cada grupinho vive as suas ideologias e jamais se pensa na necessidade geral. O bem não é comum. É individual. E vamos vivendo numa mistura e num pensamento pequeno de uma sociedade que pouco estuda, que pouco se interessa por assuntos que garantem uma vida melhor. Afinal a maioria dos brasileiros quer praia, quer cerveja, quer carnaval, quer forró estilizado e quer gerar um futuro de homens e mulheres que se iludam dizendo que vivemos uma democracia sem nem se quer saber de onde esse assunto surgiu. Estamos longe do ideal de vida feliz que os filósofos antigos sonharam, no qual os direitos eram garantidos, executados e perpetuados.


Wellington dos Santos
Graduando em Filosofia pela Universidade Federal de Campina Grande



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