Tanto na abertura da copa no Brasil quanto na sua finalização, vaias à presidente Dilma Rousseff foram comuns nos estádios. A torcida que ali assistia às partidas reprovou algum tipo de comportamento da petista, ao qual não pretendo adentrar, nem tampouco, discutir se essa atitude foi “deselegante” ou “plausível” – a qual deve ser abordada em outro momento.
Gostaria, apenas, de trazer um questionamento que desde as manifestações de junho do ano passado vêm se fazendo: “Essas vaias, esses protestos, terão algum reflexo nas urnas?”. De antemão, não pretendo inferir resultados que ainda não se sabe com precisão seu desfecho. Gostaria apenas de refletir, através das pesquisas que vêm sendo feitas, como se configura o perfil do “atual”eleitor brasileiro.
Juntamente com as vaias, a própria popularidade da presidente tem caído nos últimos meses. Segundo o Ibope, em março, 36% dos pesquisados pelo instituto, aprovavam o governo Dilma e o consideravam ótimo ou bom. Em junho, esse número cai para 31%. Seguindo o mesmo ritmo, sua confiança foi reduzida de 48% para 41%, no mesmo intervalo de tempo. Entretanto, quando se refere às intenções de votos, a presidente Dilma ainda aparece liderando as pesquisas com maciça diferença em relação ao segundo candidato Aécio Neves, um com 39% e outro com 21%, respectivamente.
Podemos conjecturar que apesar de a grande maioria da população estar insatisfeita com o governo Dilma, tem a intenção de votar na candidata.
Outro caso, desta vez de modo inverso, pode ser verificado no estado da Paraíba. O atual governador tem tido uma aprovação de 51,45 %, segundo a Consult, e de 48,3%, de acordo com o Instituto Múltiplo, em sua gestão. Já quando se trata de intenções de voto o candidato Cássio Cunha Lima dispara na frente tendo 43,8% das intenções de voto, ao passo que Coutinho tem apenas 25,1% (Fonte: Instituto Sousa Lopes) ficando em segundo lugar.
O que se pode perceber – de forma hipotética, pois se trata apenas de pesquisas, é que mesmo os eleitoresparaibano-brasileiros estando insatisfeitos com um governo não pretendem modificá-lo ou mantê-lo se necessário.
Segundo o cientista político José Maria Nóbrega, grande parte do eleitorado, a nível federal e estadual, está concentrado nos interiores, o que abre margem a um forte tradicionalismo. Ou seja, apesar de estarem insatisfeitos com os governos, os eleitores, preferem manter no poder aqueles que “já são conhecidos”.
Esse aspecto levantado torna-se preocupante, por que revela, como pano de fundo, uma realidade da qual não podemos fugir: “nós” ainda não aprendemos o tamanho poder que o voto comporta. Como o voto se torna irrelevante ou secundário, o indivíduo vota de qualquer maneira ou até mesmo abstém-se dele. Ou quando o faz, utiliza critérios como: “o candidato que fez mais por mim”. Isso faz com que não haja uma política pública a longo prazo, mas prevaleça o usufruto da ações pessoais a qual “estou” sendo beneficiado, em resumo: clientelismo.
Distanciamo-nos, assim, da escolha racional e votamos pelo mais diversos motivos que se possam imaginar. Jogamos fora o ingrediente primordial de uma democracia mínima: o sufrágio. O mecanismo legítimo de a população aprovar ou não um governo, não é exercido de forma lógica e baliza-se, por vezes, pelas diversas práticas: clientelismo, paternalismo, patrimonialismo, coronelismo, etc.
Embora as vaias à presidente não represente a população multifacetada e as pesquisas não darem conta da totalidadedas eleições, mostram, de forma mínima e genérica, aquilo que é o eleitor brasileiro. Se isso é um prenúncio do que serão as eleições, deixemos que as urnas respondam a esta questão.
Por Mesias Ramos
Sociólogo pela UFCG
Publicado em 13 de julho de 2014