O que apenas era uma desconfiança ou especulação
está a se confirmar: a água do rio São Francisco que banha os quatro
municípios baianos (Sobradinho, Sento Sé, Remanso e Casa Nova)
localizados à borda do lago formado pela Barragem de Sobradinho,
apresenta indícios de contaminação por resíduos químicos e biológicos.
Em vários pontos do Lago, metais pesados, coliformes fecais e
substâncias químicas já se misturam à água em proporções acima da
permitida pela legislação brasileira.
É uma situação muito preocupante, afirmam as pesquisadoras Alessandra
Monteiro Salviano Mendes e Paula Tereza de Souza e Silva, da Embrapa
Semiárido. E embora manifestem essa opinião com base em informações
preliminares, os dados de amostras coletados em 27 locais diferentes e
em períodos de maior e menor cota do Lago, dão uma boa noção da
realidade atual e dos riscos que representa sua evolução se mantido o
atual modelo de agricultura praticado na região. Outras campanhas de
coleta estão sendo realizadas para confirmação desses dados.
De acordo com as pesquisadoras, as análises das amostras
identificaram teores totais de metais pesados – ferro (Fe) e cádmio (Cd)
– superiores aos que são permitidos por lei. E o aumento da
concentração desses elementos na época de cheia do rio, pode estar
relacionado, entre muitos outros fatores, “com o carreamento do solo
pela erosão para dentro do Lago no período de chuva e com o avanço das
áreas agrícolas para o Lago, na época de menor cota”, explicam.
O níquel (Ni) e o cromo (Cr) também foram constatados em elevadas
quantidades, em pelo menos um ponto de coleta. Para ela, a presença de
metais pesados na água que conhecidamente estão presentes em alguns
fertilizantes e agrotóxicos normalmente utilizados na atividade agrícola
da região, são indicativo da influência desta atividade na qualidade da
água do Lago de Sobradinho.
Outras substâncias, como o acefato, metalaxil, oxyfluorfen,
pendimetalina, e carbendazim, foram detectados em 90% das amostras,
indicando a potencial de contaminação da água do Lago por agrotóxicos
que são muito utilizados nos cultivos de cebola.
Um dado que também merece atenção é o que constata que 99% das
amostras de água coletadas em áreas rurais ribeirinhas nos municípios de
Sobradinho, Casa Nova, Sento Sé e Remanso apresentaram altas
concentrações de coliformes fecais. A contaminação detectada decorria a
presença de estercos de animais. Nesses locais, as águas são impróprias
para o consumo humano. Segundo a portaria n°2.914 de 2011 do Ministério
da Saúde, uma água para consumo humano deve estar ausente de coliformes
fecais.
Entre os 4 pontos de coleta do município de Remanso, de acordo com as
pesquisadoras, apenas num lugar, identificado como Salgadinho, a água
estava apropriada para uso pelos agricultores e suas famílias.
Este trabalho é realizado num dos planos do projeto “Ações de desenvolvimento para produtores agropecuários e pescadores do território do entorno da Barragem de Sobradinho-BA” executado pela Embrapa e a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF). As pesquisadoras são responsáveis por avaliar e monitorar como as atividades agropecuárias afetam a qualidade do solo na região de entorno e da água do Lago.
Rebert Coelho Correia, pesquisador da Embrapa Semiárido e coordenador
do projeto, explica que embora os dados ainda não sejam os definitivos,
eles apontam uma situação preocupante e dão uma noção da gravidade da
realidade atual e dos riscos que representa sua evolução se mantido o
atual modelo de agricultura praticado na região.
“Nós vamos buscar as prefeituras, que são parceiras na execução do
projeto, e a sociedade desses municípios para discutirmos o problema que
o estudo das pesquisadoras aponta. Precisamos alterar essa situação,
com rapidez”, afirma.
Com EcoDebate
Publicado em 10 de outubro de 2013