A
automedicação pode causar um quadro grave de intoxicação, além de
mascarar sintomas de uma doença, mas o problema tem sido recorrente. Só
nos primeiros sete meses deste ano, 460 pessoas foram atendidas
apresentando quadro de intoxicação no Hospital de Trauma, em Campina
Grande. As principais vítimas são mulheres que tomam algum tipo de chá
para abortar. O uso de medicamentos é a segunda maior causa de
intoxicação verificado pelo Centro de Informação e Assistência
Toxicológicas (Ceatox) que funciona no Hospital de Trauma e orienta os
pacientes.
Muitos tratamentos de saúde são feitos com o uso de plantas
medicinais (fitoterapia), mas em alguns casos, apesar de ser natural,
este tipo de medicamento requer muito cuidado para sua utilização e é
justamente por não achar perigoso que muitas pessoas usam
indiscriminadamente as plantas medicinais e acabam entrando nas
estatísticas dos casos de intoxicação.
A professora da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e
coordenadora do Ceatox, Sayonara Lia Fook, ressalta que a automedicação
ainda é o grande problema nos casos de pacientes com intoxicação
causada por plantas. Segundo ela, engana-se quem acredita que
tratamentos com plantas não oferecem riscos por serem naturais. Sayonara
explica que, por mais simples que o caso aparente ser, é preciso
acompanhamento médico.
“Às vezes as pessoas sentem uma leve dor de cabeça e já fazem uma
automedicação, que é perigosa tanto com medicamentos naturais quanto
industrializados e que pode ser ainda mais grave se misturar os dois
tipos de medicamentos. Para se ter um exemplo, a mistura de dipirona com
chá de hortelã causa intoxicação e dependendo da reação pode causar o
óbito do paciente”, salientou a professora.
De acordo com Sayonara, o risco não está somente no uso da planta
medicinal, mas principalmente na quantidade que é utilizada. “Os
medicamentos sempre causarão reações boas ou ruins no corpo. Por isso é
preciso uma regulagem das quantidades utilizadas. Por esta razão, para
alguns casos são utilizados medicamentos de farmácias de manipulação,
para que o mesmo tenha os componentes na medida certa para cada caso”,
explicou.
Sayonara Fook disse que os casos mais comuns de pacientes que dão
entrada no Hospital de Trauma com intoxicação são os de mulheres que
tomam chás para interromper gravidez.
“Muitas mulheres, principalmente jovens, acabam se intoxicando depois
de tomar grandes quantidades de chás para abortar uma gravidez
indesejada, causando riscos à saúde do feto e de sua própria vida”,
ressaltou a professora.
PLANTAS SÃO VENDIDAS NAS FEIRAS DE CG
Apesar dos riscos da utilização das plantas medicinais sem
acompanhamento profissional, é comum encontrar folhas, ervas, raízes e
compostos sendo vendidos livremente nas feiras públicas de Campina
Grande. Na Feira Central, por exemplo, próximo ao antigo prédio do
Cassino Eldorado, pode se encontrar bancas comercializando estes
produtos.
Dona Inácia Firmino, 77 anos, vende ervas e raízes na feira há 58
anos e fabrica garrafadas para tratamentos de expectorantes,
anti-inflamatórios e antibióticos naturais. Diariamente várias pessoas
procuram seu boxe para compra ervas e compostos. Ela contou que aprendeu
a atividade com sua sogra, que também vendia os produtos.
Segundo dona Inácia, o produto mais procurado é uma “garrafada” composta por 17 ervas e que serve como anti-inflamatório, que custa R$20. A maioria das pessoas que compram esta “garrafada” são homens com problemas na próstata.
Ainda de acordo com Dona Inácia, outro produto bastante procurado é
um mel produzido com “babatenon”, que funciona como expectorante.
“Muitas mães compram esse mel quando seus filhos estão doentes com
secreção no pulmão”, disse ela.
O entregador de mercadorias José Bezerra, 62 anos, mora em João
Pessoa, e passou na Feira Central de Campina Grande para comprar algumas
ervas. Ele contou que está com um problema renal e recebeu uma receita
caseira de um amigo, que estava na mesma situação. “Um amigo meu também
estava com esse mesmo problema nos rins e disse que ficou bom tomando
este chá. Estou comprando agora e vou tomar. Espero que funcione comigo
também”, disse.
Com Jornal da PB