O governo estuda a possibilidade de conceder, a pedido da
Petrobras, reajuste no preço da gasolina e do diesel. A informação foi
dada ontem pelo ministro das Minas e Energia, Edson Lobão. O percentual
de aumento requerido pela estatal ainda não foi divulgado.
No início do ano os dois combustíveis sofreram incremento – de 6,6%
na gasolina e de 10,5% no diesel –, mas especialistas estimam que a
defasagem entre o valor praticado no País e no mercado internacional
supere 15%.
Nos últimos anos, o governo vem segurando com rédeas curtas a alta
nos preços temendo impacto na inflação, que, segundo o IPCA (Índice de
Preços ao Consumidor Amplo), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), no acumulado dos 12 meses encerrados em julho está em
6,27%. A meta é 4,5% e, o teto, 6,5%.
Entretanto, conforme afirma o professor da Eaesp (Escola de
Administração de Empresas de São Paulo) da FGV (Fundação Getulio Vargas)
Evaldo Alves, certamente haverá forte impacto na inflação se houver
reajuste. “Considerando o aumento no preço dos combustíveis e o reflexo
da medida no restante da cadeira, o que inclui o custo dos transportes e
de produtos que consomem de alguma forma gasolina ou diesel, a inflação
pode ser elevada em um ponto percentual”, avalia. “O governo vem
atrasando esse impacto na economia, porém, se conceder a correção, o
consumidor vai sofrer a curto prazo, com o preço na bomba, e a médio
prazo, com a inflação.”
Para a Petrobras, por outro lado, Alves acredita que será possível
recompor seu caixa e ampliar investimentos podendo, assim, reduzir a
importação de petróleo.
Outra consequência do possível incremento no valor dos combustíveis
é a migração na bomba da gasolina para o álcool. “Hoje, os postos
vendem mais gasolina do que etanol. No Grande ABC, para se ter ideia,
cerca de 60% dos motoristas abastecem com gasolina. Com o aumento dos
preços e da procura pelo etanol, deve ser feita uma pergunta: será que
as usinas possuem estoque para dar conta da demanda?”, questiona o
presidente do Regran (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de
Petróleo do Grande ABC), Wagner de Souza. “Hoje, a cada 4.000 litros de
gasolina comercializados, vendem-se 1.600 de etanol.”
Alves complementa que, se a oferta de álcool não for suficiente, inevitavelmente seu preço também vai subir.
Hoje, o etanol é mais vantajoso na região. Os postos praticam
valores médios de R$ 1,79 por litro de etanol e R$ 2,69 por litro de
gasolina. Considerando que se o álcool custar até 70% do combustível
fóssil, ele é mais econômico, neste caso, se for até R$ 1,88 vale a
pena.
TRANSPORTE PÚBLICO - Outra questão referente aos combustíveis que
vem sendo discutida é a municipalização da Cide (Contribuição de
Intervenção no Domínio Econômico), tributo federal incidente na venda de
combustíveis. Quase 30% do que é arrecadado é repartido entre os
Estados e depois entre as cidades.
A FGV está desenvolvendo estudo para mostrar que o valor recolhido
pelo imposto, se for direto aos cofres municipais, pode gerar desconto
diretamente na tarifa do transporte público. E, de quebra, reduzir a
inflação. A divulgação da pesquisa, com detalhes, deve ocorrer em breve.
Com Exame
Publicado em 14 de agosto de 2013