Dos 121 açudes monitorados pela Agência
Executiva de Gestão das Águas do Estado(Aesa), 27 estão secos ou quase
secos na Paraíba. A estiagem, que castiga quatro das cinco regiões do
Estado, já deixou 22,3% desses reservatórios com, no máximo, 20% de sua
capacidade total. Em cinco deles, segundo a Agência, o acumulado é
apenas de 5% e a situação é considerada "crítica".
Municípios inteiros dependem
exclusivamente da distribuição de água através de carros pipas. A
maioria dos 195 municípios onde foi decretado estado de calamidade
pública soma mais de 118 mil pessoas dependendo da distribuição de água
feito pelo Exército.
Os mananciais de municípios do Sertão como
Teixeira e São José do Sabugi, e da região do Cariri, a exemplo de Ouro
Velho, secaram completamente. A população só tem água quando faz fila à
espera dos caminhões que se transformam na salvação principalmente para
matar a sede e para preparar a comida, que também é escassa.
Em Teixeira, cidade a 320 quilômetros de
João Pessoa, que tem uma área de 114,43 e fica na transição entre o
Sertão e o Cariri, os 14 mil habitantes da zona rural e urbana estão
dependendo do abastecimento de carros pipa. Exército está abastecendo a
zona rural e levando água a 6 mil e 206 pessoas. O restante da população
do município está recebendo água nos carros-pipa de uma parceria entre a
Prefeitura e o Governo do Estado.
Os açudes que abastecem a população de
Teixeira, o Bastiana e o São Francisco II, estão praticamente secos. O
primeiro deles, que tem capacidade para acumular quase 1,3 milhão de
metros cúbicos, está com um volume atual de apenas 38 mil 330 metros
cúbicos. Ou seja, 3% da sua capacidade de armazenamento. No caso do
açude São Francisco II, a situação é ainda pior. Dos quase 5 milhões de
metros cúbicos de capacidade de acúmulo só restam 26,7 mil metros
cúbicos. Ou seja, 0,5% do total.
No município de Ouro Velho, no Cariri
paraibano, mais de 2 mil pessoas, ou seja quase toda população da
cidade, está recebendo água dos carros-pipa do Exército. O açude, que
tem o mesmo nome da cidade, tem capacidade de acumular 1,6 milhão de
metros cúbicos de água, mas está com apenas 48,2 mil metros cúbicos
(2,9%) de sua capacidade de acúmulo de água.
Mas é na cidade de São José do Sabugi que a
situação chegou ao limite zero. O açude São José IV que tem capacidade
para acumular 554 mil metros cúbicos de água está completamente vazio. O
município tem uma população de 4 mil e 98 habitantes e, desse total,
1.431 pessoas estão na zona rural. O abastecimento d'água está sendo
feito de carros pipas, patrocinados pela prefeitura e pelo Governo do
Estado.
Na maior cidade do Sertão, Patos (com uma
população de pouco mais de cem mil habitantes), a população da zona
rural também está na dependência dos carros pipas para abastecimento
d'água. O município fica às margens da BR 230 e que interliga a Paraíba
aos estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará
Patos tem um potencial de consumo de mais
de um R$ 1 bilhão em 2012 e entrou no mapa das 20 cidades do interior do
país com as maiores taxas de consumo. Contudo, os dois mananciais que
abastecem o município estão com capacidade considerada crítica, abaixo
dos dez por cento. Para suprir as necessidades da população urbana, o
abastecimento da cidade está sendo feito do açude de Capoeira,
localizado no município vizinho de Santa Terezinha.
De acordo com a técnica da Gerência de
Operações de Mananciais da Agência Executiva de Gestão das Águas do
Estado, Itamara Mary, o açude está abastecendo exclusivamente a
população da cidade de Patos. Está sendo proibida a utilização das águas
do açude de Capoeira para a irrigação ou qualquer outra atividade que
não seja abastecimento humano.
Ela explicou que isso é necessário para
que o açude possa ter condições de levar água para o consumo doméstico
em Patos por pelo menos mais 20 meses. "A esperança é de que antes de
vir a acontecer um colapso no abastecimento em Patos, as chuvas caiam e
os dois açudes da cidade retomem a capacidade de abastecimento", disse.
O açude Capoeira também não está numa
situação muito boa. O manancial tem capacidade para 53, 4 milhões de
metros cúbicos, mas está com apenas 12,9 milhões - 24,3% da capacidade.
O açude da Farinha, também em Patos,
segundo dados mais recentes da Agência Executiva de Gestão das Águas,
tem capacidade para acumular 25,7 milhões de metros cúbicos e possui
apenas 2,4 milhões (9,4% de sua capacidade). No açude Jatobá I, a
capacidade é de 17,5 milhões de metros cúbicos e tem hoje apenas 1,5
milhão ( 8,7%).
Na zona rural de Patos, segundo o
presidente do sindicato rural e secretário de Agricultura do município,
Sebastião Lima, 3 mil e 500 pessoas estão recebendo água em quatro
carros pipas, um da Prefeitura e três do Governo do Estado. O
abastecimento é feito somente de segunda-feira até a sexta-feira. No fim
de semana não tem abastecimento d'água.
O número de caminhões pipas não são
suficientes, segundo Sebastião Lima e a quantidade de cisternas de
placas - cerca de 495 existentes na zona rural - também não são atendem a
população nos períodos de estiagem, que são frequentes na região.Os 90
poços artesianos também secaram. "Seria preciso mais cisternas para
levar cada uma a cada três famílias, pelo menos", explicou Sebastião.
O secretário executivo de Infraestrutura
do Governo, Carlos Alberto Dantas, informou que o Estado adotou ações
complementares em 100 cidades que estão sofrendo com a estiagem. Disse
que, nos municípios onde o Exército não está abastecendo, a Prefeitura
pode solicitar a parceria do governo estadual, que pode repassar
recursos para a contratação de pipeiros. "A Secretaria de Infraestrutura
repassa até R$ 45 mil para um período de 90 dias", informou.
No município de Triunfo, no Sertão do
Estado, cerca de 9.220 pessoas estão sofrendo com a falta de água nas
torneiras. De acordo com moradores, o nível de água do Açude das
Gamelas, responsável pelo abastecimento da região, chegou a um estado
alarmante, e há duas semanas os moradores precisam comprar carroças de
água ao custo de R$ 12.
Nesta sexta-feira (26), a população
realizará uma manifestação pública que sairá do bairro Luiz Gomes de
Brito até a unidade da Cagepa.
Com Correio da PB