Continuando com alguns dados das escolas do Cariri paraibano, lançarei um genérico olhar sobre a realidade educacional da cidade do Congo.Para “olhar” essa realidade, tomarei como ponto de partida a Escola Estadual Manoel Alves Campos cuja faceta educacional se revela pertinente, uma vez que é a escola com o maior número de alunos dentro do munícipio.Por isso, este “olhar” pretende chamar a atenção para a realidade, sem a pretensão de generalizar, mas sem também negligenciar tal contexto.

Dito isto, começo por analisar alguns dados socioeconômicos. O município do Congo-PB tinha aproximadamente 4.687 habitantes em 2013. Até o final de 2014, o IBGE estimavao patamar de 4.775 munícipes. Desse contingente, encontram-se 59,5% acima da linha de pobreza.Em outras palavras, a maior parte da população congoense sobrevive com uma renda per capita superior a R$ 140,00. Ademais, 20,8% encontram-se na linha de pobreza e indigência e o restante (19,7%) vive com menos de R$ 70,00 per capita (Fonte: IDEME).

Percebe-se, portanto, que o município teve um solapamento de sua pobreza bastante significativo nos últimos anos. Entretanto, do ponto de vista da qualidade de vida da população, ainda encontra-se na classificação de municípios que contêm uma baixa qualidade de desenvolvimento humano, obtendo um IDHM de 0,581 em 2010 (Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil).

Isso representa um bojo bastante diferenciado no que se refere aos últimos anos do município. O Congo, como outros munícipios do cariri,conseguiu arrefecer a péssima qualidade de vida nos últimos dez anos, evoluindo de 0,441 em 2000 para 0,581 em 2010, o que representa um acréscimo de 31,75%. No entanto, ainda está na classificação de baixa qualidade de vida, elencado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Nesse mesmo lapso de tempo - de dez anos –pode-se verificar que não houve uma evolução equitativa da educação, quando comparada a redução da desigualdade social e melhora na qualidade de vida dos congoenses. Por exemplo, o número de ingressos nas escolas do município vem decrescendo nos últimos anos em contraposição do crescimento da população, como demonstrado anteriormente.

Gráfico 1. Número absoluto de Matrículas. Fonte. IBGE.

Porta-estandarte que, nos últimos anos, o número de matrículas nas escolas vem decrescendo, sobretudo no que diz respeito ao Ensino Médio. Esse quadro reflete-se diante de realidades de municípios bastante similares como o caso do município de Coxixola, já demonstrado em outra ocasião.

Segundo o IBGE, há escolas privadas de Ensino Fundamental, contudo, para o Ensino Médioo município dispõe apenas da EMAC, ligada a rede estadual de ensino. Dessa forma, mesmo havendo escolas privadas,em tese, os alunos deveriam passar pela escola de Ensino Médio existente no município, o que não corresponde aos números analisados, pois grande parte dele servai-se durante esse período. Em outras palavras, dos alunos que ingressam no Ensino Fundamental, menos da metade consegue chegar ao Ensino Médio. Uma correlação que não atrela-se ao fator econômico e financeiro, pois, ao mesmo tempo que o Congo saiu dos baixos indicadores sociais, não apresentou o mesmo ritmo na Educação.
Esse “resultado”, portanto, é decorrência de inúmeros fatores. Mesmo assim, podemos conjecturar um deles: a saída desses alunos para o ingresso cedo no mercado de trabalho. Apenas para elucidar tal hipótese, peguei alguns dados do IBGE concernentes ao trabalho infantil no mesmo município. Dos 4.775 habitantes, 723 (10 a 17 anos) exercem algum tipo de atividade ligado ao trabalho, representando, dessa forma, 15,1% da população. Esse número parece irrisório, mas quando essa faixa etária é estendida para pessoas com 10 a 19 anos (idade que os alunos deveriam estar na escola) há um aumento significativo, correspondendo por sua vez a 80,4% dos jovens congoenses inseridos no mundo social do trabalho (Fonte: IBGE).

Outra variável que demonstra a realidade da Escola Manoel Alves Campos é a nota do IDEB que decresceu no ano de 2013, para o Ensino Fundamental. A Escola conseguiu atingir as metas projetadas pelo Ministério da Educação em 2007 e 2009, tendo 3.0 e 2.9, respectivamente. Contudo, em 2013 não conseguiu alcançar a meta projeta, que era de 3.3,obtendo apenas 2.7, um número menor que os anteriores.

Gráfico 2. Nota do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). Fonte: INEP.

Esses dados revelam, ainda que de modo genérico, o quadro amplo que se insere a Escola Manoel Alves Campos. Percebe-se, portanto, um município que vem evoluindo cada vez mais economicamente. No entanto, do ponto de vista social-igualitário tem-se ainda muitos caminhos a percorrer, sobretudo no quesito educacional.

É inegável que a Escola obteve, também, grandes progressos nesse período, mas faz-se necessário pensar os eventuais “problemas” que a Escola vem enfrentando para buscar possíveis soluções.E nesse sentido, os números são importantes para pensar essa realidade complexa e multifacetada que se encontram diversas escolas do Cariri Paraibano.

Por Mesias Ramos
Sociólogo UFCG

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