O colunista Mesias Ramos vem falar sobre a decadência das verdadeiras festas juninas.
Confira na íntegra:
É chegada a época junina. No Nordeste, isso deveria ser sinônimo de forró, comidas típicas, quadrilhas, trajes a caráter, etc. No entanto, o que temos percebido nas “festas juninas”, são verdadeiros eventos travestidos de “tradicionais”, quando na verdade, são bem diferentes daquilo que caracteriza nossa cultura.
Não é difícil encontrar em plena época junina “forrós de plástico”, funks, sertanejos, etc. Por isso, não será novidade para o leitor, saber que nossas festas estão imbuídas de ritmos desconexos com nossa cultura, que, não obstante, tem substituído nossos ritmos.
Os festejos juninos têm sido, comumente, palco de promoção para muitos indivíduos, menos para preservar o patrimônio cultural do nosso povo. Basta olhar para os grandes eventos realizados em nosso Cariri, cujas atrações custam uma fortuna e trazem apenas a cultura de um grupo social que não é o nosso.
Há quem defenda – inclusive nas universidades – que devemos relativizar e escutar todos os estilos ou provar todos os gostos. Se isso é verdade, formulo a seguinte questão: o que caracteriza o grupo social, “nordestinos”?Se, por exemplo, o “forró de plástico” não representa o que de fato é nossa cultura, então, esse não servirá para classificar como patrimônio cultural, logo, não faz parte de nossa identidade. Se, por outro lado, dissermos que “sim”, que todos os ritmos representam a nossa cultura caímos num subjetivismo no qual incluímos todas as culturas e perdemos de vista aquilo que é nosso.
Se a cultura de massas não tem uma preocupação em deixar “marcas”, por assim dizer, então, não será na efemeridade de seu jeito de ser, que buscará representar o povo nordestino, sobretudo no mês de junho. Por isso, nossos festejos, estão mais para “eventologias” cujo objetivo é oferecer às massas uma política de “pão e circo”.
Como justificativa para esses eventos, são utilizados os mais diversos discursos: “todos os jovens gostam disso”, “que esse é o ritmo da galera”, “que o povo gosta de coisa ‘moderna’”, etc. Em nome de um “bem comum” costuma-se enquadrar as minorias, transformando numa “tirania da maioria” que negligencia o direito dos poucos.
Os que defendem esse tipo de cultura dirão que não podemos querer moldar os gostos e que ‘eles’, também, deverão ter seu espaço, pois do contrário, privaríamos o direito de liberdade de todos. Têm razão! O que pretendo alertar, enfim, é para uma cultura unilateral que deixa de lado – mesmo havendo maciças manifestações, da quais não busco generalizar – o patrimônio cultural do nosso povo em nome duma modernização, que efetivamente não representa o Nordeste.
Por Mesias Ramos
Sociólogo pela UFCG